Traições e Desventuras - Capitulo III
Para quem ainda não viu, começamos o capitulo I falando sobre as desventuras de Adelle de Montfort que podem ser vistas aqui.
Agora estamos no capitulo III desse material falando sobre a origem de mais um personagem da trama: Dnim Obrebos.
Autora: Louise Lima
Colaboradora: Amly
Traições e Desventuras
Livro I
Capitulo III
Dnim Obrebos
O ano era o de 1300.
A localização, um pequeno, mas próspero Condado situado na Europa Central, no interior do que seriam hoje as terras pertencentes à Romênia.
Foi um nascimento esperado. Seu pai, o Conde Tordor Palatov, possuía um razoável legado, porém nenhum filho varão para herdar e levar adiante o trabalho - e as aquisições - de toda sua vida. Quando em uma noite do ano cabalístico de 1300 nasceu, perfeitamente saudável, o seu primeiro filho, Hagi Palatov, nasceu, Conde Tordor foi envolto de uma alegria inenarrável, a qual externou dando vários dotes a seus servos e fazendo festas que durariam semanas, mas que seriam lembradas por várias gerações posteriores.
Não fazia idéia, porém, que esta seria apenas a primeira de uma infinidade de alegrias que sobreviriam de seu filho. Hagi se demonstrou de uma precocidade imensa. Com um ano de idade já falava perfeitamente. Aos 3 já tinha lido várias obras de biblioteca de seu pai. Aos 5 já poderia se sentar à mesa com os adultos e dar verdadeiras lições aos menos favorecidos intelectualmente. Não só no campo das letras Hagi se destacava, ele também era bom com as armas. Pediu ao seu pai para que lhe concedesse como mestres os melhores guerreiros da região. E assim foi feito.
Um menino prodígio, inteligente e ágil nas lutas, que, no entanto, demonstrou rapidamente qual seria a sua maior habilidade : a persuasão.
A capacidade que Hagi possuía em convencer os outros era algo de inacreditável. Talvez fosse o seu semblante, que transmitia imponência, talvez o seu status, afinal ele era o filho do Conde, o herdeiro de todas as terras que se podia ver até o horizonte, ou simplesmente era bom mesmo com as palavras, de qualquer forma, independente do real motivo, o fato era que se tornava praticamente impossível negar, por vontade própria, algo a Hagi.
E assim o tempo foi passando naquela próspera região. Todavia, até os mais tolos sabem que paz e prosperidade são tão efêmeras quanto a chuva que insiste em cair no verão e ali, naquele específico condado, não haveria de ser diferente.
No ano de 1315 o Conde Tordor Palatov foi acometido de uma doença terrível e veio a falecer. A safra no ano anterior já não tinha sido boa e havia feudos vizinhos com a clara intenção de aproveitar o momento delicado pelo qual o Condado passava para aumentar suas posses. Todos possuíam plena convicção de que a tranqüilidade havia definitivamente encontrado seu final e que os anos que se seguiriam seriam de pura decadência.
Eles estavam certos, mas só em parte. A tranqüilidade realmente havia sumido daquelas terras, porém a decadência em nenhum momento ali pisou. Assim que tomou o poder, Hagi Palatov, com apenas 15 anos de idade, administrou suas posses de forma soberba. Conseguiu duplicar a safra com apenas dois anos à frente do Condado e quadruplicá-la no terceiro ano. Todo o excedente era vendido e investido no próprio Condado. Hagi não foi apenas o melhor administrador que aquela região já havia visto, mas também, como já era de se esperar, o melhor político. Conquistou fortes alianças, conteve sérios ataques de inimigos e aumentou a sua influência de forma majestral. Não havia um mero plebeu a 5000 Km de distância que não soubesse da capacidade e do poder de Hagi Palatov, o soberbo.
Por sua influência estar em constante ascensão, Hagi começou a incomodar muita gente e, principalmente, chamou bastante atenção do mais forte instituto àquela época: a Igreja Católica. O Alto Clero estava descontente na forma em que Hagi era adorado quase como um Deus, ou “até mais que Ele”, afirmavam alguns bispos. Para piorar a situação, Hagi não era um cristão fervoroso, externava perfeitamente a aparência de um, mas os mais próximos sabiam que a sua convicção era bem maior no que ele chamava de “ciência”, do que na própria religião e isso, definitivamente, não era bem visto pelo mais alto escalão da Igreja-Cristã regional.
No ano de 1320, Hagi orquestrou uma imensa batalha para expulsar de uma vez por todas algumas tribos de bárbaros ao sul de suas terras que, vez por outra, realizavam alguns saques no interior do Condado. Contratou alguns mercenários e chamou todo o seu exército. Ele próprio esteve no campo de batalha. Foram lutas difíceis e bastante sangrentas que culminou com a vitória do exército do Condado. Um fato inesperado, todavia, ocorreu. Infiltrado nas terras bárbaras estava um membro da Igreja e este foi morto como se fosse apenas mais um dos membros do exército inimigo.
Quando tal notícia se espalhou, todos a viram como mau-presságio. Não poderia se vislumbrar mal agouro pior para um líder de uma batalha do que seus homens matando um membro da Igreja no decorrer das lutas. A população do Condado estava em polvorosa e a notícia caiu como uma bomba nas altas cortes cristãs.
Uma convocação de emergência foi criada e uma Corte para julgar Hagi Palatov estabelecida. Depois de muita discussão, a sentença foi proferida: Hagi foi condenado à morte e suas terras, que estariam amaldiçoadas pelo próprio Senhor Deus deveriam ficar sobre controle da Igreja para que se tornasse pura novamente e para que a população ali residente pudesse ter esperanças em ir para o paraíso após sua morte.
A população adorava Hagi, mas prezava infinitamente mais a sua chance de voltar para o céu quando a este mundo não mais pertencesse e, portanto, a decisão do Clero foi bem recebida.
Bastante peculiar foi a forma como decidiram que seria a morte de Hagi : ele seria amarrado vivo a uma canoa, posto no leito do rio e deixado levar pela correnteza até cair em uma grande Cascata que ali na região existia. Essa forma foi escolhida para que no tempo em que estivesse amarrado e ainda vivo Hagi refletisse sobre os seus erros e orasse para que Deus tivesse piedade de sua alma.
Assim foi decidido e assim foi feito.
Fortemente amarrado em uma canoa, sem as mínimas condições de se mexer, Hagi já desistira de lutar e esperava a sua morte. Ela até veio, porém não exatamente do jeito que ele pensara.
A menos de 500m da cascata, quando mais ninguém estava acompanhando a trajetória da canoa, uma figura alva pulou com uma desenvoltura fora dos padrões humanos da margem do rio para a canoa. Estático ainda com o susto e sem saber o que diabos estava acontecendo, Hagi só teve tempo de escutar aquela figura pálida sussurrando : “Belo, inteligente e manipulador. Há tempos que eu não possuía tão belo banquete dos de sua raça. Será uma contribuição inestimável para o clã” ; e então sentiu uma forte dor no pescoço, vindo a desfalecer.
Quando acordou, Hagi se sentia diferente. Não tinha muita noção exatamente do porquê ou como, mas sabia que estava diferente. Muito diferente. E com fome. Quando recobrou plenamente os sentidos, viu que estava nas ruínas do que outrora deveria ser um belo palácio e que a sua frente estava uma figura grande. E alva.
A figura se apresentou como Vladimir Karamazov e mandou Hagi se acalmar, afirmando que o turbilhão de perguntas que rondavam a sua cabeça já seria esclarecido. Bastava um pouco de paciência.
A exótica figura se sentou em uma poltrona à direita de Hagi, pegou uma taça com um líquido vermelho, e começou a falar. Falava de forma clara e pausadamente, em uma conversa que seria lembrada para todo o sempre por Hagi Palatov.
Vladimir foi seu mestre. Ensinou-lhe tudo o que deveria saber para, pelo menos, sobreviver naquele seu novo estado. Falou-lhe de seus novos poderes, de suas futuras capacidades, de seu potencial, além da peculiar restrição que teria de somente poder se alimentar de sangue feminino (restrição herdada de seu próprio mestre),10 anos se passaram até que Vladimir resolvesse que Hagi estava pronto para o mundo lá fora.
Decidiram, porém, que seria preciso um novo nome para Hagi. Vladimir consultou seus ancestrais e o nome, que seria posteriormente temido e amado por massas inteiras, foi escolhido: Dnim Obrebos.
Agora Hagi estava de volta. Muito mais forte, muito mais sábio, muito mais poderoso. E alimentando um ódio homérico pelos membros da Igreja Cristã. Hagi, não. Dnim.
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