Traições e Desventuras - Capitulo IV
Agora estamos no capitulo IV desse material falando sobre a origem de mais um personagem da trama: Tzeruyah
.Esse é o capitulo IV da trama, quem quiser acompanhar os outros pode vê-los em:
Capitulo I: Adelle de Montfort
Capitulo II: Haveron Granchier
Capitulo III: Dnim Obrebos
Autora: Louise Lima
Colaboradora: Amly
Traições e Desventuras
Livro I
Capitulo IV
Tzeruyah
Tzeruyah olhou para trás, não sabia ao certo o que fazer, mas tinha convicção da necessidade de levar seus planos em frente, pois somente dessa forma se libertaria totalmente de seu passado. Despediu-se com um sorriso, e cavalgou sem direção, seus pensamentos estavam confusos. Relembrou todos os acontecimentos ocorridos até o momento no qual se encontrava. Talvez estivesse possuída, não sabia ao certo, mas tinha uma enorme força de vontade para combater suas maiores fraquezas; seu juízo a conduzia, ou talvez a falta dele. Não tinha medo. Os humanos, definitivamente, não mereciam o seu perdão.
Teve sua origem no Sacro Império Romano-Germânico, Europa Central, durante um período intitulado Baixa Idade Média. Era filha única, de descendência nobre de cavaleiros, os quais viriam a tornar-se vassalos. Vassalos eram nobres vindos de famílias pouco afamadas e estariam à disposição do suserano para auxílio em batalhas e tribunais; ao realizarem algum serviço para o senhor feudal, recebiam um presente sob a forma de senhorios (terras com trabalhadores) ou rendimentos: esse presente era denominado feudo.
Sua mãe possuíra longínqua descendência hebraica, de onde viria a dar origem ao nome de sua filha, Tzeruyah. Apesar de todo o luxo no qual vivia, devido às riquezas obtidas por seu marido em inúmeras batalhas e conquistas dos quais participara, era uma pessoa humilde e mórbida. Teve sua vida interrompida antes de ver sua filha completar três anos.
Tzeruyah aos vinte anos não possuía uma aparência que pudesse chamar a atenção de homens; tinha a pele muito branca, rosto descorado, cabelos lisos, negros e curtos, olhos grandes e amendoados, pouco busto, estatura mediana, utilizava roupas incomuns e adquirira adoração pela lua, muitas vezes notava que ela estava a chamando, ou tentando transmitir algo. Devido ao fato de seu pai, Talmud, desejar muito possuir um filho do sexo masculino e já não poder gerá-los, em decorrência da morte de sua esposa, apegou-se muito a Tzeruyah e ela a ele, tratando-a como um rapaz. Ela vestia túnicas em tons escuros, aprendia a lutar primorosamente e estava decidida a trilhar o mesmo caminho do pai. Tinha pensamentos confusos, instabilidade notória. Era sádica, irônica, impulsiva, inconseqüente e pertinaz. Costumava permanecer isolada, treinando a utilização de armas brancas e cavalgava para distração. A única companhia que apreciava era a de seu pai, e de seu companheiro imaginário, Yehudah, a quem poderia consultar quando suas visões incomuns surgiam; tratava os outros com indiferença e tinha o estranho hábito de achar-se superior a todos, talvez fosse esse um costume por possuir sempre posições de destaque ou talvez não, apenas uma característica de sua personalidade.
Era cristã por imposição, interiormente tratava-se de uma pessoa agnóstica e incrédula. O clero exercia uma enorme influência na época e todos deveriam estar dispostos a adotar o cristianismo. A Igreja Católica era a mais poderosa das instituições medievais e a única a obedecer a uma direção centralizada; uma fundação basilar.
Seu pai pertencia à Ordem dos Cavaleiros Templários, uma organização sancionada pela Igreja Católica Romana em 1128, para guardar a estrada entre Jerusalém e Acre, uma cidade portuária importante, no Mar Mediterrâneo. No período atual a ordem já havia arrecadado prestígios e riquezas, conquistou um nome de valor e heroísmo, principalmente após as batalhas contra o anticristianismo Sarraceno. No entanto, estava sendo muito visada pelo rei da França, o qual acreditava que a mesma formava uma grande potência econômica e tentava, inutilmente, tornar-se líder absoluto. Talmud era um nobre e reconhecido cavaleiro, possuía muitos méritos, porém devido ao seu juízo diferenciado dos outros, acabou travando uma terrível conflito com um dos membros da ordem e o matou deliberadamente, fugindo em seguida; foi perseguido pelo restante dos membros, torturado e por fim, morto.
E como ela tinha um certo fanatismo pelo pai, teve visões de sua morte e acreditou destemidamente que a mesma estava relacionada com a ordem dos templários e, como já não tinha grandes laços com a igreja, repudiando-a desde a infância, sentiu necessidade de vingar sua morte atingindo a ordem e, portanto, o cristianismo. Ela sabia, não haveria melhor meio de atingi-la que não fosse infiltrando-se. Resolveu, portanto, filiar-se à ordem utilizando-se de trajes masculinos e aproveitando-se de sua aparência pouco destacável; não era fácil diferencia-la entre os outros homens, sabia manejar perfeitamente armas brancas, herança deixada por seu genitor.
Apesar de sua total discrição, ela chamou atenção da ordem por suas idéias muitas vezes consideradas divergentes e não-ortodoxas; estaria sendo extremamente vigiada, pois poderia ser capaz de trair a confiança de todos os membros. Às vezes deixava escapar que para ela a Igreja representava pouco valor. Após um certo período, ao tentar insistentemente possuir posições de liderança, Tzeruyah, na ordem adotando o pseudônimo Tzeru, foi descoberta por um dos membros. Ele estava decidido a contar ao líder que Tzeru tratava-se de uma mulher, a menos que o deixasse abusar dela; enfurecida, deixou o ódio a dominar e acabou o matando violentamente. Sua atitude pérfida chamou a atenção de todos, e a mesma foi violentada pelos cinqüenta membros da ordem presentes no local no momento em que constataram que se tratava de uma mulher. Depois de encerrado o ato, a abandonaram em um local próximo ao rio, inconsciente.
No outro dia estava totalmente insana e histérica não permitia a aproximação de ninguém. Berrava incessantemente e tinha muitas visões, um terrível mal se aproximava, Yehudah a abandonara. Os cavaleiros da ordem voltariam para persegui-la, apanha-la e por fim, mata-la, pensava. Até que durante a noite, enquanto tentava manter um estranho diálogo com a lua, percebeu a aproximação de um homem, tratava-se de Avigal, um membro solitário de Malkavian; apreciava cavalgar sem rumo pela Europa e possuía conhecimentos fora do comum. Tzeruyah rapidamente escondeu-se entre árvores e o observou de longe, estaria ele em sua busca; transpirava. Avigal no mesmo instante notou que estava sendo observado e sumiu de seu campo visual, realmente estava a sua procura. Reapareceu atrás da mesma, necessitava de sangue, porém acreditou que Tzeruyah teria grande utilidade como sua seguidora. Ela notou um leve toque em suas costas e puxou uma pequena faca, apontando para Avigal, acreditava tratar-se de um membro da ordem. Gritava incessantemente por vingança. Avigal com muita habilidade apanhou a arma de suas mãos e a segurou, ela caiu desmaiada em seus braços e teve seu sangue drenado até o fim, em seguida, ele fez um corte em seu próprio braço com a faca e a alimentou com algumas gotas de seu sumo imortal levando-a em seguida consigo para uma casa abandonada, onde há muito tempo servira como asilo, onde morava.
Após o abraço, Tzeruyah notou que estava totalmente enfeitiçada. Seu coração já não batia, não respirava e sua pele era fria; não estava morta, pois ainda assim pensava, andava, e falava. Ela já não possuía suas necessidades fisiológicas naturais: o único alimento que desejava era sangue humano, e adquirira grande sensibilidade à luz solar; tratava-se agora de uma descendente de Caim e estaria amaldiçoada por toda a eternidade.
Permaneceu durante muitos anos com seu mestre Avigal aperfeiçoando suas disciplinas, e teria adquirido conhecimentos muito úteis, porém sua insanidade estava cada vez mais evidente: obteve personalidades diferentes, uma na qual comportava-se como uma jovem moça, podendo permanecer entre mortais sem possível distinção, e, apesar de não poder falar, possuía grande habilidade na comunicação através de gestos. Essa personalidade era a mais freqüente, e apresenta muitos traços da própria Tzeruyah antes de adentrar à completa insanidade; tímida, sem qualquer tipo de afinidade com a leitura e a escrita, pois a época não permitia isso a mulheres, aprendeu com Avigal a exercer algumas práticas médicas, chegando, através de seu auxílio a tornar-se interna em um hospital. A segunda personalidade não era tão freqüente, e na mesma, Tzeruyah possuía uma aparência neutra, a mesma utilizada quando adentrou à ordem dos templários; é mais expansiva e sua habilidade com armas brancas é inquestionável, no entanto, é mais feroz e inconseqüente (nesse momento seu ódio pela Igreja e desejo de vingança está muito aparente, sendo capaz somente de digerir sangue arterial cristão). Não aceitava imposições e estava decidida a retornar sua vingança, não teria notado, porém, que muitos anos haviam se passado e a Europa já não se encontrava nas mesmas condições.
Era o ano de 1307 e as cruzadas haviam tomado um novo rumo, iniciou-se a caçada aos templários, suas riquezas foram confiscadas, e muitos membros já teriam sofrido tortura; os restantes estavam foragidos. O tribunal da santa Inquisição se espalhara por toda a Europa com a finalidade de investigar e punir crimes contra a fé católica, torturando impiedosamente grupos heréticos. A economia do continente estava em retração devido à introdução da Peste Negra e as rebeliões de camponeses contra a ordem feudal (Jaqueries). Vale lembrar que nesse período, sob a influência do cristianismo, acreditava-se na existência de um mundo como um todo organizado de acordo com os desígnios de Deus. Por isso, tudo e todos obedeciam à ordem divina. Os insanos, assim como os retardados e os miseráveis, eram considerados parte da sociedade e o principal alvo da caridade dos mais abastados. Os doentes mentais eram chamados de insanos, lunáticos (pois se supunha que a mente das pessoas era influenciada pelas fases da lua) ou pecadores (indicando a transgressão de qualquer preceito religioso ou a existência de certos defeitos ou vícios nos indivíduos). A doença mental era decorrente de uma relação defeituosa entre o homem e a divindade, um castigo por faltas morais e pecados cometidos, ou provocada pela penetração de um espírito maligno no organismo do indivíduo ou, ainda, pela evasão da alma do corpo da pessoa. Muitas vezes, esses insanos, lunáticos ou pecadores eram submetidos a rituais religiosos de exorcismo ou adorcismo. Doentes com distúrbios mentais mais graves ou mais agressivos eram flagelados, acorrentados, escorraçados, submetidos a jejuns prolongados, sob a alegação de estarem “possuídos pelos demônios” e inclusive poderiam ser queimados, por serem considerados feiticeiros.
No final da Idade Média, vários indivíduos de comportamento “desviante”, de loucos a contestadores, foram assim perseguidos, julgados e queimados vivos nas fogueiras da Santa Inquisição; Tzeruyah era um deles, considerada infiel por seus questionamentos inconseqüentes ao dogmatismo cristão. Estava sendo perseguida por suas atitudes e aparência insana, suas aparições em locais públicos e manifestações em discórdia ao cristianismo, conseguira fugir com o auxílio de Avigal, e permaneceu escondida em seu asilo abandonado durante um longo período; ele a aconselhou a sair da Europa: mas agora se tratava de um neófito, por que sair da Europa? Aquilo de forma alguma poderia a atingir... Estava confusa, porém foi capaz de alcançar uma conclusão final: realmente precisava fugir, pois seria gravemente punida se quebrasse a máscara. Encerrando suas lembranças, seguiu em frente, rumo ao desconhecido.
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